sábado, 21 de setembro de 2024

Os Jogos Paralímpicos e a participação do Brasil

    

Natação Paralímpica  do Brasil tem 4,5 milhões de orçamento para 2024. 
(https://swimchannel.net/br/natacao-paralimpica-do-brasil-tem-45-milhoes-de-orcamento-para-2024/). 

Ao longo da história, os indivíduos com necessidades especiais foram vistos como doentes e/ou incapazes, e sempre estiveram em situação de desvantagem, ocupando, no imaginário coletivo, a posição de alvo da caridade popular e da assistência social, e não a de sujeitos de direitos sociais, entre os quais se inclui o direito à educação, à saúde, a educação física e aos esportes. Dessa forma, o esporte cumpre um papel importante na reabilitação e inclusão social de pessoas com deficiência, desmistificando os preconceitos e combatendo as discriminações.

O Esporte Adaptado para pessoas com deficiência (paradesporto) surge no início do século XX, de forma muito tímida para reabilitar as pessoas com algum tipo de deficiência. O início foi com as modalidades coletivas para jovens portadores de deficiências auditivas, depois foi incluído atividades como natação e atletismo para os jovens com a deficiência visual e, por fim, para as pessoas portadoras de deficiências físicas se deu ao após a Segunda Guerra Mundial, quando os soldados voltaram para os seus países de origem com vários tipos de mutilações e outras deficiências físicas.

Um exemplo, foi o trabalho do neurocirurgião alemão Guttman (que fugiu da Alemanha durante o governo nazista), na Unidade de Lesões do Hospital de Stoke Mandeville, em Londres, na Inglaterra, cuidando de ex-combatentes com lesão medular, que recém haviam retornado da guerra. Guttman passou a usar o esporte competitivo como parte do processo de reabilitação e inclusão social dos seus pacientes. Inclusive, os primeiros jogos de forma competitiva foi realizado no próprio Hospital de Stoke Mandeville, no continente europeu, ocorrendo no mesmo dia da abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, em 1948. O que levou a ser considerado os primeiros jogos paralímpicos, pois esses jogos estavam sendo equivalente aos Jogos Olímpicos e se perpetuou ano após anos, até os anos de 1960.

Em 1960 ficou definido que a edição dos Stoke Mandeville Games seria levada para a cidade de Roma, na Itália, que sediava os Jogos Olímpicos. Essa foi considerada a primeira edição dos Jogos Paralímpicos da história, realizada com a presença de 400 atletas de 23 países. Somente a partir de 1964, em Tóquio, que esse evento esportivo passou a ser conhecido como Jogos Paralímpicos. As Paralimpíadas se tornou um megaevento esportivo realizado a cada quatro anos para pessoas com deficiências. Inclui modalidades que permitem atletas com diversos tipos de deficiência competirem, como as deficiências motoras, amputados, cegos, além de pessoas que sofreram paralisia cerebral e que possuem alguma deficiência mental. As competições e os ranqueamentos do paratletas profissionais são de responsabilidade do Comitê Paralímpico Internacional em parceria com o Comitê Olímpico Internacional. Essa parceria definiu, por exemplo, que a mesma sede escolhida para os Jogos Olímpicos seria a dos Jogos Paralímpicos. Além disso, as sedes devem planejar sua estrutura de forma a receber tanto os atletas olímpicos quanto os paralímpicos.

Entre os anos de 1968 e 1984, as edições dos Jogos Paralímpicos foram realizadas em sedes diferentes das dos Jogos Olímpicos porque as sedes olímpicas não demonstraram interesse em adaptar sua estrutura para receber os atletas paralímpicos. Somente a partir de 1988 que se oficializou que os Jogos Paralímpicos seriam realizados na mesma cidade-sede dos Jogos Olímpicos. O evento sediado em Seul, na Austrália, até hoje é considerado um marco nos esportes paralímpicos, pois permitiu que os atletas paralímpicos utilizassem a mesma estrutura dos atletas olímpicos. A cada nova edição passaram a incluir diferentes deficiências, dando oportunidades a novos atletas, de todas as noções.

Na edição de Paris, na França, os Jogos Paralímpicos, foram realizados na data do dia 28 de agosto a 8 de setembro, e contou com 22 modalidades e 04 mil paratletas de todo o mundo. Sendo o Goalball a única modalidade desenvolvida exclusivamente para pessoas com deficiência e se destina a pessoa com baixa ou nenhuma visão. Foi inventado em 1946 pelo alemão Sepp Reindle e pelo austríaco Hans Lorenzen para a reabilitação de veteranos da Segunda Guerra Mundial que acabaram perdendo a visão durante o conflito, o goalboll é um esporte baseado nas percepções tátil e auditiva. O grande objetivo é fazer gols no adversário e defender sua baliza. São jogos que tem a orientação por guizos no interior da bola e os espectadores devem fazer silêncio absoluto durante os jogos, com 3 jogadores que não vê ou tem baixa visual, nas seguintes posições: ala direita, ala esquerda e pivô. O espaço físico do goalball é a medida da quadra de voleibol e o gol mede 9 metros de comprimento e 1,5 metro de altura. 


Goalball - modalidade exclusivo para pessoas com deficiência visual.

As outras modalidades paralímpicas da edição de Paris são:

- Atletismo paralímpico

- Badminton paralímpico

- Basquete em cadeira de rodas

- Bocha*

- Canoagem paralímpica

- Ciclismo de estrada paralímpico

- Ciclismo de pista paralímpico

- Esgrima em cadeira de rodas

- Futebol de cegos

- Halterofilismo paralímpico

- Hipismo paralímpico

- Natação paralímpica

- Remo paralímpico

- Rugby em cadeira de rodas

- Taekwondo paralímpico

- Tênis de mesa paralímpico

- Tênis em cadeira de rodas

- Tiro com arco paralímpico

- Tiro esportivo paralímpico

- Triatlo paralímpico

- Vôlei sentado

- Judô paralímpico

* Foi a primeira medalha do Brasil nas Paralimpíadas em 1976.

No Brasil, o esporte adaptado surgiu em 1958 com a fundação de dois clubes esportivos (um no Rio e outro em São Paulo). A primeira participação do Brasil em Jogos Paralímpicos só aconteceu na edição de 1972. A primeira medalha do Brasil nas Paralimpíadas só foi obtida na edição de 1976, ficando em 31º lugar na competição. A medalha de prata foi conquistada pela dupla Luiz Carlos da Costa e Robson Sampaio, que competiram na modalidade “lawn bowls”, atualmente conhecida como “bocha”, anteriormente praticada na grama. A bocha é outro esporte do quadro dos Jogos que não possuem um semelhante nas Olimpíadas. O objetivo do esporte é lançar bolas coloridas o mais próximo possível da bola branca (chamada de jack ou bolim). Os atletas podem lançar as bolas usando as mãos, pés ou um instrumento de auxílio (como calhas), e também podem contar com ajudantes, conhecidos como calheiros.

Atletas de bocha conquistam vagas para o Campeonato Brasileiro 
(https://www.gov.br/esporte/pt-br/noticias-e-conteudos/esporte/atletas-da-bocha-paralimpica-conquistam-vagas-para-o-campeonato-brasileiro)

A partir da década de 1980, o Brasil começou a ter um desenvolvimento expressivo nos esportes paralímpicos, e, em 1995, surgiu o Comitê Paralímpico Brasileiro. No total, o Brasil obteve 373 medalhas em todas as edições das Paralimpíadas. Atletismo é o esporte que mais garantiu medalhas ao Brasil na história das Paralimpíadas. Daniel Dias, da Natação, é considerado o maior atleta paralímpico da história do Brasil. Ao longo da sua carreira, o nadador ganhou 27 medalhas, sendo 14 de ouro, sete de prata e seis de bronze. Atualmente, o Brasil é considerado uma das maiores potências dos esportes paralímpicos, obtendo resultados expressivos nas últimas edições dos jogos. Veja um resumo da participação brasileira nos quadros de medalhas nas últimas edições:


Ano

Posição

Ouro

Prata

Bronze

Total

Paris 2024*

25

26

38

89

Tóquio 2020

22

20

30

72

Rio de Janeiro 2016

14

29

29

72

Londres 2012

21

14

8

43

Pequim 2008

16

14

17

47

Atenas 2004

14º

14

12

7

33

* Para mais informações acessar o site: <https://olympics.com/pt/noticias/jogos-paralimpicos-paris-2024-todas-medalhas-brasil>, o canal oficial do COI e CPI


O Brasil foi representado na edição de Paris por 280 atletas, sendo 255 esportistas com deficiência, 19 atletas-guia (sendo 18 do atletismo e 1 do triatlo), três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo. Os brasileiros disputam 20 das 22 modalidades dos jogos deste ano, as únicas exceções são no basquete e no rúgbi em cadeira de rodas. Foi a maior delegação da história do Brasil em Jogos Paralímpicos. Essa também foi a delegação brasileira com maior participação feminina em uma edição de Jogos Paralímpicos, com 117 competidoras. O recorde de atletas até então tinha sido nos Jogos do Rio 2016, quando o Brasil teve 278 atletas disputando todas as 22 modalidades. O Atletismo foi o esporte com maior número de paratletas nessa edição. Ao todo, serão 70 atletas e 16 atletas-guia. A natação foi em segundo lugar, com 37 representantes. O vôlei sentado ocupa o terceiro posto, com 24 nomes. 

Em Paris 2024, Brasil terá maior delegação para Jogos Paralímpicos fora do país (https://cpb.org.br/noticias/em-paris-2024-brasil-tera-maior-delegacao-para-jogos-paralimpicos-fora-do-pais/)


Confira abaixo alguns paratletas que foram às Paralimpíadas de Paris 2024 e seus respectivos esportes:

- Bruna Alexandre: tênis de mesa paralímpico e também participou da edição Olímpicas de Paris 2024, a única atleta até os dias de hoje a participar dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no mesmo ano.
Bruna Alexandre mesatênista paralimpíca e olímpica. 
(https://leiamaisba.com.br/2019/10/28/tenis-de-mesa-bruna-alexandre-ouro-no-circuito-aberto-da-china#google_vignette)

- Maria de Fátima: halterofilismo

- Elielton Lira: judô

- Carol Santiago: natação

- Gabriel Araújo: natação

- Douglas Matera: natação

- Jeferson da Conceição: Futebol de 5

As Paralimpíadas de Paris 2024 têm importância para unir o esporte e a deficiência e ampliar as oportunidades profissionais para os paratletas de todo o mundo. Além disso, os Jogos Paralímpicos focam em aumentar a diversidade e provocar mudanças sociais. Outra importância de conhecer, acompanhar e praticar o paradesporto está no sentido da sensibilidade, empatia, inclusão e cidadania de todos e todas, reconhecendo que a PcD também tem direito de participam da sociedade de forma produtiva, não são incapazes ou doentes, que também tem sentimentos e vontade de viver a vida, consomem, trabalham, namoram, tem família. O esporte é uma ferramenta de inclusão, reabilitação, readaptação e ressocialização para as pessoas com deficiência. Mesmo o Brasil sendo uma potência mundial nos Jogos, evoluindo na participação e nas medalhas a cada edição dos jogos, ainda somos um país que trata mal as pessoas com deficiência, por causa da falta de informação e do grande preconceito, associado a falta de condições específicas para a sua prática a todos os portadores de deficiência.

Referência bibliográfica:

Cobertura dos Jogos Paralimpicos na TV deixou a desejar. Disponível em: <https://vejario.abril.com.br/coluna/otavio-furtado/cobertura-dos-jogos-paralimpicos-na-tv-deixou-a-desejar/#google_vignette>. Acessado em 21/09/201.

DARIDO, Suraya Cristina; SOUZA JÚNIOR, Osmar Moreira de. in: educação física e inclusão. Para ensinar Educação Física: possibilidades de intervenção na escola. Papirus Editora, Capítulo 17, 2014. p. 247 a 261.

Esportes Paraolímpicos. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28011>. Acessado em 13 de abril de 2022.

Paralimpíadas de Paris 2024. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/educacao-fisica/paralimpiadas-de-paris-2024.htm>. Acessado em 21/09/2024.

Conheça a história da primeira medalha paralímpica do Brasil. Disponível em: <https://midianinja.org/conheca-a-historia-da-primeira-medalha-paralimpica-do-brasil/>. Acessado em 21/09/2024.
Paralimpíadas. Disponível em: <
https://brasilescola.uol.com.br/educacao-fisica/jogos-paraolimpicos.htm>. Acessado em 21/09/2024.

Brasil iguala melhor colocação nas Paralimpíadas; veja todas as 72 medalhas. Disponível em <https://www.uol.com.br/esporte/olimpiadas/ultimas-noticias/2021/09/05/brasil-paralimpiadas-2020-veja-todas-as-medalhas.htm>. Acessado em 21/09/2024.

Brasil terá delegação recorde na Paralimpíada de Paris 2024, com 280 atletas. Disponível em: <https://esportes.r7.com/olimpiadas/brasil-tera-delegacao-recorde-na-paralimpiada-de-paris-2024-com-280-atletas-29082024/>. Acessado em 21/09/2024.

Medalhistas paralímpicos do futebol de 5. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Medalhistas_paral%C3%Admpicos_do_futebol_de_5>. Acessado em 21/09/2024.

Goalboll: história, o que é, curiosidades, regras e mais. https://ge.globo.com/paralimpiadas/guia/2024/08/28/c-goalball-historia-o-que-e-curiosidades-regras-e-mais.ghtml. Acessado em 21/09/2024.

Futebol de 5 – Dribles, passes e gols: tudo sem enxergar! Disponível no youtube: <https://www.youtube.com/watch?list=PLIznM60J0iewnK2pf4mlyAMVth_OO56F2&time_continue=7&v=rp4ISUUHAU> . Acesso em 9 de junho de 2018.

Conheça a modalidade paraolímpica do goalball. Disponível no youtube: <https://youtu.be/UinvTFoRpP8?feature=shared>. Acessado em 9 de setembro de 2023.



FUTEBOL DE 5 OU FUTEBOL PARA CEGOS?

O futebol de 5 brasileiro Introdução O futebol para deficientes visuais, também conhecido como futebol para cegos ou futebol de 5, é uma a...