O futebol para deficientes visuais, também conhecido como futebol para cegos ou futebol de 5, é uma adaptação do futebol para atletas com deficiências visuais. O desporto é governado pela Federação Internacional dos Desportos para Cegos (IBSA – sigla em Inglês) e é jogado com regras da Federação Internacional de Futebol (FIFA) modificadas. O futebol de cinco é uma expressão do futebol convencional modificado a fim de tornar esse esporte hábil a prática de pessoas com deficiência visual e cegas. O futebol de 5 começou como uma brincadeira de reabilitação no recreio para crianças em escolas especiais com deficiência visual e hoje faz parte das modalidades presentes nos Jogos Paralímpico. No Brasil, o futebol é gerido pela Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais – CBDV.
História
O futebol para cegos teve seu início em instituições e escolas especializadas ao atendimento de pessoas com deficiência visual como forma de recreação, passa tempo e de reabilitação na década de 1920, na Espanha. Na mesma época, o Brasil iniciava a prática do futebol para cegos com latas e garrafas nas mesmas instituições especializadas. Os primeiros institutos a praticar o futebol de cinco foram o Instituto Santa Luzia, em Porto Alegre; o Instituto Padre Chico, em São Paulo; o Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro; e o Instituto São Rafael, em Belo Horizonte. O processo fez parte da generalização do futsal nos dois países, devido ao fato de salões/quadra e academias se revelaram espaços muito mais adequados para evitar a desorientação comparado ao campo de futebol. Outros países com prática precoce de futebol para cegos foram a Colômbia, desde a década de 1970, e a Argentina, desde os anos 1980.
De acordo com Itani (2005, p. 8) “a prática do futebol pela população deficiente visual do Brasil (…)” possivelmente “eram estimuladas durante as aulas de educação física, e jogado durante os intervalos dos institutos e das escolas”. O que confirma essa possibilidade são relatos de fala dos entrevistados da autora Itani, para o trabalho de pesquisa para o término do curso de Educação Física em 2005. Em alguns casos o início desta prática deu-se devido à convivência com crianças não deficientes de uma maneira mais lúdica, fora do ambiente formal, como a hora do recreio.
A bola principal instrumento de orientação e de atenção no futebol de cegos teve suas adaptações ao longo do tempo, até chegar na bola oficial com guizo que conhecemos hoje. No início, procurava-se material que fosse usado como uma “bola” que fazia barulho, como por exemplo, as latas, recipientes cheios de guizos, garrafas plásticas com pedras dentro ou latas de betume — como já era praticado na Colômbia nos anos 1970.
No Brasil, descobriram que uma bola de futebol envolta em plástico produzia um ruído de guia, da mesma forma que na Argentina crachás de refrigerante eram colados na superfície de uma bola na década de 1980. No final da década de 1970, há registros de que o professor João Ferreira utilizava em Pernambuco uma bola de couro com sinos dentro, inventada por ele mesmo e construída por um artesão local. Essa bola seria oficialmente adotada na década de 1990.
O início do processo de esportivização do futebol de 5 ocorreu em 1978, com a primeira competição nacional entre as Associações de Pais e Amigos Excepcionais (APAE’s), realizada na cidade de Natal, Brasil. Pouco tempo depois, em 1984, também no Brasil, foi realizado o primeiro campeonato nacional de futebol para cegos em São Paulo com o nome de Copa Brasil de Futebol de 5. Dois anos depois, a Espanha realizou seu 1º Campeonato Espanhol de Futsal, categoria B1. Entre 1988 e 1995, foram realizados alguns torneios internacionais exclusivos do futsal para cegos, na Espanha, Argentina e no Brasil, com a participação dos primeiros selecionados desses três países e da Colômbia. A aproximação entre jogadores e dirigentes desses países levou à unificação das regras e a criação da Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBAS) para trabalhar as Leis do jogo apropriadas para este esporte.
Na ocasião, reuniu-se durante a celebração de diversos torneios amistosos na Europa, com representantes de Portugal, Inglaterra, Itália, França e Grécia, com os quais acordou algumas prováveis Leis do Jogo, onde cada país contribuiu com alguns regulamentos, e renunciou a outros, em benefício de um acordo internacional. Este acordo surgiu em setembro de 1996 na cidade de São Paulo (Brasil), quando Carlos Alberto Campos se reuniu com o brasileiro Ramón Souza (ABDC) e o argentino Enrique Nardone (FADEC), representantes do Brasil, da Argentina e membros do IBAS, com quem consolidou e definiu o Regulamento do Futsal para Cegos. Uma obra de grande importância, muito importante para o esporte, e um pontapé inicial histórico para o sucesso na oficialização do futebol de 5.
Segundo Itani (2005, p. 23) os países que mais contribuíram para a evolução do futebol de 5 foram o Brasil e a Espanha, com um papel fundamental no desenvolvimento desta modalidade como um todo e na consolidação do futebol de 5 nos seus países. O ápice do desporto adaptado veio com a inclusão do Futebol de 5 nos Jogos Paralímpicos em Athenas, no ano de 2004 (ITANI, 2005, p. 23).
“O IPC, juntamente com a IBSA e a FIFA, reestruturaram as regras do futebol para cegos em 2004 para os Jogos de Athenas. Essa reestruturação trouxe consigo a alteração da nomenclatura desta modalidade, oficializando a partir desta data o nome de FUTEBOL DE CINCO (IPC, 2004, IBSA, 2004). Acreditamos que essa alteração da terminologia foi para diferenciar essa manifestação de futebol das demais, e também para retirar da palavra - cego e/ou deficiente visual - a presença de estigmas e/ou preconceitos ao cita-lo (ITANI, 2005, p. 23)”.
Como funciona?
O esporte futebol de cinco é praticado em uma quadra com as mesmas dimensões da quadra de futsal: 18 a 22 metros x 38 a 42 metros, o piso pode ser de cimento, madeira, borracha sintética, grama natural ou sintética, deve ser plano, liso e não abrasivo. O objetivo é fazer o gol na meta adversária invadindo o campo adversário e protegendo a própria meta. As linhas laterais da quadra são substituídas por bandas laterais que são barreiras ao longo de sua extensão e mais 1 metro além de ambas as linhas de meta/gol. Essas bandas medem de 1 metro a 1,20 metros de altura para a proteção dos jogadores. A área do goleiro foi reduzida para uma área retangular de 5,16 metros x 2metros, se o goleiro atuar fora dessa delimitação, seja com os pés ou com as mãos, ocasiona o pênalti para equipe adversária. A marca do duplo pênalti é de 8 metros de distância do ponto médio da linha entre as traves.
A bola possui um sistema de som interno (guizos), necessário para a orientação dos jogadores dentro de quadra. Daí a necessidade do silêncio durante o andamento da partida. Através do som emitido pelos guizos, os jogadores podem identificar onde a bola está e de onde ela está vindo e podem conduzi-la. A torcida só pode se manifestar na hora do gol.
Cada time é formado por cinco jogadores – um goleiro e quatro na linha. O goleiro tem visão total e não pode ter participado de competições oficiais da Fifa nos últimos cinco anos. O jogo é dividido em dois tempos de 15 minutos, com 10 minutos de intervalo, nos Jogos Paralímpicos.
Os jogadores usam uma venda nos olhos e, se tocá-la, cometerão uma falta. Com cinco infrações, o atleta é expulso de campo e pode ser substituído por outro jogador. Há, ainda, um guia (chamador) que fica atrás do gol adversário para orientar os atletas do seu time. Ele diz onde os jogadores devem se posicionar em campo e para onde devem chutar. O técnico e o goleiro também auxiliam em quadra.
Os jogadores são obrigados a falar a palavra espanhola “voy”, “go” ou “vou”, em português, ou outra palavra similar, para sinalizar ao atacante sua presença e sempre que se deslocarem em direção a bola, na tentativa de se evitar choques. Quando o juiz não ouvir ou o jogador não falar, ele marca falta contra a equipe e falta pessoal. Os fundamentos são os mesmos do futsal, porém desenvolvidos e adaptados às condições do jogador, por exemplo, para conduzir a bola eles usam a parte interna dos pés mantendo a bola sempre em contato com essa parte do corpo, tocando a bola de um lado para outro na face medial dos pés durante a corrida.
Os jogadores desse esporte são classificados em uma de três classes, de acordo com o seu nível de deficiência visual, com a sigla B (Blind, cego em inglês). Nos Jogos Paralímpicos, porém, competem apenas os da classe B1. Vamos conhecer as três classes:
B1 – Atletas totais ou quase totalmente cegos; desde a não percepção da luz até à percepção da luz mas com a impossibilidade de reconhecer a forma de uma mão.
B2 – Atletas com visão parcial, com percepção de vultos.
B3 – Atletas com visão parcial, que conseguem definir imagens
A Seleção Brasileira possui cinco títulos nos Jogos Paralímpicos: em Athenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020, e uma medalha de bronze em Paris (2024). Em todas as edições dos Jogos Paralímpicos o Brasil esteve no pódio, confirmando a hegemonia no futebol de 5. Além dos títulos, a equipe verde e amarela foi a primeira a marcar um gol em Jogos Paralímpicos. O autor do feito foi o atleta Nilson Silva, falecido em 2012. Destacam-se no esporte futebol de 5 os atletas: Mizael Conrado de Oliveira com 8 títulos e eleito melhor jogador do mundo pela IBSA em 1998; João Batista da Silva com 14 títulos; Ricardo Alves Steinmetz (Ricardinho) com 10 títulos e eleito melhor jogador do mundo pela IBSA em 2006 e Jefferson da Conceição Gonçalves (Jefinho) com 9 títulos e eleito melhor jogador do mundo pela IBSA em 2010.
Conclusão
A modalidade esportiva que teve a sua primeira participação nos Jogos Paralímpicos em 2004 e deixou muitas expectativas aos atletas, e a todos que a acompanham. Aqueles que veem a possibilidade de um dia compor a seleção brasileira, e aos que simplesmente torcem e trabalham de outras maneiras para que esta modalidade se desenvolva cada vez mais no Brasil e no Mundo. Ainda falta o reconhecimento e o respeito para com os atletas cegos como jogador de futebol e a pouca visibilidade da mídia (divulgação em massa) para com a modalidade. Podemos organizar algumas perspetivas para a modalidade como o crescimento quantitativo e qualitativo de atletas de futebol; mais campeonatos – Liga televisionados; uma inclusão e renovação por meio de eventos escolares; maior reconhecimento dos jogadores como profissionais do futebol; maior apoio midiático; aumento de profissionais capacitados; vínculo estreito ESPORTE+UNIVERSIDADE; investimento do setor público e privado no esporte adaptado; melhorias na organização dos eventos e políticas públicas; melhorias para o movimento de cegos no Brasil; benefícios aos deficientes em geral – melhores condições de cidadania.
Referencial bibliográfico:
ITANI, Daniela Eiko. Futebol de cinco: um esporte possível para cegos. 2005. Monografia (Graduação em Educação Física). Faculdade de Educação Física na Modalidade Bacharel em Treinamento em Esporte. Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2005. 101 p.
Futebol de cinco. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Futebol_de_cinco>. Acessado em 04 de outubro de 2024.
Futebol de cegos. Disponível em: <https://cpb.org.br/modalidades/futebol-de-cegos/>. Acessado em 04 de outubro de 2024.
Futebol 5. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/nehmeparalimpico/catalogo-esportes/esportes-paralimpicos/futebol-5-2/>. Acessado em 04 de outubro de 2024.
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