sábado, 17 de setembro de 2016

A BAIXA PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS DE ENSINO MÉDIO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Hoje em dia tanto se fala da importância da Educação Física na vida das pessoas e na escola. Mais o que observamos é que apenas uma parcela dos alunos, em geral os mais habilidosos na os estão efetivamente engajados nas atividades propostas pelo professores, algo que permite com que os alunos mais habilidosos demonstrem o seu conhecimento mediante a atividade solicitada na qual a competição é vista como oportunidade de se destacar entre o grupo de amigos que tanto é valorizado pelo aluno do Ensino Médio.

Devide (1999) apud Mattos & Neira (2000) em recente pesquisa em uma escola de Ensino Médio, investigou a concepção de Educação Física dos alunos no cotidiano e o papel do professor enquanto educador. Os resultados indicam que os alunos encaram a Educação Física como uma disciplina sem relevância para manter-se dentro do currículo escolar, com conteúdos repetitivos e sem aplicabilidade no cotidiano, além de não motivar a prática permanente de exercícios fora da escola.

Assim, nesta perspectiva, as aulas de Educação Física, como são aplicadas, não promovem o interesse prático pelas atividades por parte dos alunos.

Braid (2003) argumenta que, ao analisar a Educação Física contextualizada à história do país, percebe-se que de uma maneira bastante singular, ela sempre esteve a serviço da ideologia dominante, caracterizando-se como uma atividade alienante e elitista. Alienante ao excluir crianças e adolescentes (consideradas/ os inaptas/os ou sem habilidades específicas) em nome do esporte de alto nível. Elitista pela forma como vem tratando o corpo do aluno, visto como objeto manipulável, o qual deveria ser enquadrado em padrões mínimos aceitáveis de rendimento.

Mattos & Neira (2000), ao analisarem a ciência da Educação Física, destacam que: a ciência da Educação Física indica alguns princípios para execução de qualquer programa, desde andar de bicicleta até jogar futebol ou simplesmente, caminhar. Seguir esses princípios é uma condição indispensável para que a participação de qualquer pessoa nas atividades seja uma experiência proveitosa e, se possível, agradável.

Ao final de um período de execução de qualquer atividade que acompanhe esses princípios, o executante perceberá os benefícios adquiridos e a provável adoção de um estilo de vida ativo, ou seja, a manutenção dos benefícios.

A Educação Física é um componente curricular que pode proporcionar ao aluno a capacidade de conhecer seu corpo, com práticas de atividades prazerosas, assim como a interação com o professor e demais alunos. Segundo Paes (2001), a Educação Física escolar poderá permitir ao aluno o exercício de sua cidadania, na qual o trabalho e o lazer são fundamentais para uma boa qualidade de vida. Para nós, cidadania significa participação e para participar da Educação Física é preciso saber, conhecer, analisar e refletir a prática.

Hanauer (2009) assinala que a Educação Física é um meio essencial para a formação do cidadão, pois durante uma atividade em muitas situações o aluno tem que tomar decisões rápidas, deve ser ágil e encontrar a maneira mais fácil de ultrapassar os obstáculos, e é exatamente isso que acontece na sociedade atual, devemos estar preparados para as mudanças e as exigências que temos de enfrentar. A Educação Física escolar tem o grande papel de educar, socializar, motivar proporcionando uma vida saudável e melhorando a qualidade de vida dos alunos.

Fatores que justificam a evasão nas aulas de Educação Física
    
Segundo Darido (2004) uma das hipóteses possíveis para o número reduzido de aderentes à prática da atividade física pode residir nas experiências anteriores vivenciadas nas aulas regulares de Educação Física. Muitos alunos acabam não encontrando prazer e conhecimento nas aulas de Educação Física e se afastam da prática na idade adulta.

O autor complementa que, atualmente entende-se a Educação Física na escola com uma área que trata da cultura corporal e que tem como finalidade introduzir e integrar o aluno nessa esfera, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e também transformá-la.

Segundo Almeida (2007) outro fator que pode ser destacado como principal origem das dificuldades ou desinteresse na Educação Física escolar, são os conteúdos realizados nas aulas, principalmente relacionado aos esportes. Assim como os conteúdos, as metodologias adotadas pelos professores que privilegiam apenas o esporte durante as aulas e toda a vivência escolar das crianças e adolescentes, sendo utilizado de forma rotineira e inadequada no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, em que os alunos praticam as mesmas atividades, muitas vezes sem um planejamento adequado realizados pelos professores nas aulas, parecem ter como conseqüência a evasão nas aulas de Educação Física.

Paula e Fylyk (2009) ressaltam que com relação aos aspectos fisiológicos da fase adolescente, comprova-se que eles influenciam, na maioria das vezes ao desenvolvimento de alguns fatores psicológicos que atrapalham a participação desses alunos nas aulas, como a vergonha do corpo.

As autoras concluíram que os fatores psicológicos mais comuns na adolescência são baixa estima por não possuir habilidade nos esportes, timidez excessiva em se expor frente aos colegas e o desenvolvimento precoce e tardio desses jovens que afetam diretamente sua auto confiança, para mais ou para menos.

Gambini, (1995) citado em Darido (2004), também procurou verificar a opinião dos alunos dispensados sobre a prática da Educação Física na escola. Os resultados mostraram que a maioria dos alunos não participa das aulas e pede dispensa por motivos de trabalho; em seguida, os alunos apontam para a falta de material e o desinteresse dos professores; a minoria afirma se afastar das aulas por problemas de saúde. Entre estes alunos (dispensados) 37,5% realizam atividade física em clubes ou academias. São dados alarmantes que mostram a ineficiência do ensino formal em manter a motivação dos alunos. O descontentamento pelas aulas ocorre na opinião dos alunos porque elas deveriam ser diferentes e necessitam de variações (música, outros esportes, etc.).

Pelo que se a aborda na literatura, os principais fatores de exclusão dos alunos nas aulas de Educação Física são os conteúdos realizados nas aulas, principalmente relacionado aos esportes, as metodologias adotadas pelos professores que privilegiam apenas o esporte durante as aulas, sendo utilizado de forma rotineira e inadequada tanto no Ensino Fundamental e como Ensino Médio, muitas vezes sem um planejamento adequado realizados pelos professores nas aulas.

A Influência dos fatores psicológicos

As emoções interferem significativamente na participação dos alunos nas aulas de Educação Física. Para Mattos e Neira (2000), sentir emoções, transmitir vontades, decidir sobre o que fazer e explorar as potencialidades com vigor são mensagens emitidas pelos alunos por meio dos movimentos corporais, os professores, por sua vez, não as consideram significativas mediante o que denotam entender por ação pedagógica no processo ensino-aprendizagem.

Para o autor, continua prevalecendo, exclusivamente, o corpo que corre com mais velocidade, que é capaz de pegar a bola mais vezes sem deixá-la cair no chão e tantos outros mais que aparecem enfatizados durante as atividades. O ter e o poder corporal ainda predominam sobre o “ser corpo” que pensa, age, sente e se comunica pelos seus gestos e expressões.

Darido (2004) argumenta que, com relação aos aspectos fisiológicos da fase adolescente, comprova-se que eles influenciam, na maioria das vezes ao desenvolvimento de alguns fatores psicológicos que atrapalham a participação desses alunos nas aulas, como a vergonha do corpo que existe por mais que não tenha aparecido nos relatos, mas em observação realizada conseguiu-se identificar, principalmente nas meninas, justamente por haver uma maior exposição do aluno durante as aulas de Educação Física do que nas outras disciplinas, acarretando timidez e vergonha do próprio corpo perante os colegas.

Considero fundamental reiterar que a adolescência, além de tudo é uma fase de insegurança, onde as alterações no corpo tornam-se evidentes. Nas aulas de educação física, os alunos(as) ficam mais exposto, o que resulta certo constrangimento e motivo de evasão. Os alunos que não se destacam muito no esporte, também sentem certo receio de participar do esporte, sentindo-se tímido por não ter a mesma eficiência do colega.

A motivação

A motivação é um fator preponderante para a participação dos alunos nas aulas de Educação Física. Muitos alunos se sentem desmotivados em razão dos conteúdos metódicos das aulas.

Para Magill (1984), citado em Franchin e Barreto (2009) a motivação é importante para a compreensão da aprendizagem e do desempenho de habilidades motoras, pois tem um papel importante na iniciação, manutenção e intensidade do comportamento. Sem a presença da motivação, os alunos em aulas de Educação Física, não exercerão as atividades, ou então, farão mal o que for proposto.

Segundo Franchin e Barreto (2009) a análise da motivação relacionada com a psicologia é tida como uma força propulsora (desejo) por trás de todas as ações de um organismo, pode-se dizer que é destacada como o sentimento de uma necessidade, ou seja, um conjunto de fatores psicológicos (conscientes ou inconscientes) de ordem fisiológica, intelectual ou afetiva, os quais agem entre si e determinam a conduta de um individuo, despertando sua vontade e interesse para uma tarefa ou ação conjunta. A motivação surge de dentro das pessoas, não há como ser imposta. Despertar o interesse para a qualidade é fundamental, uma vez que não se implanta qualidade por exortação, decretos ou quaisquer mecanismos coercivos.

Paula & Fylyk (2009) com relação à motivação desses, agora adolescentes, nas aulas, verifica-se que conduzir uma aula em que todos estejam satisfeitos, felizes e motivados é uma tarefa para poucos, uma vez que a motivação depende de uma série de fatores: internos ou intrínsecos e externos ou extrínsecos.

Como fatores internos podem ser citados: a necessidade, atração e a disposição. Dentre os fatores externos que influenciam na motivação das aulas, mais especificamente nas de Educação Física os principais são: o professor e a metodologia utilizada, o conteúdo aplicado, o relacionamento do professor com a turma e a estrutura da escola, entre outros fatores específicos de cada realidade.

Franchin e Barreto (2009) argumentam que o comportamento Internamente Motivado: são aqueles em que a pessoa dirige-se à atividade voluntariamente, empenhando em sentir-se competente e auto-determinada. Exemplo: o atleta que compete pelo prazer de superar seus próprios recordes e limites. Comportamento Externamente Motivado: são aqueles comportamentos em que a pessoa é levada à ação por uma recompensa externa. Exemplo: a criança ou adolescente que pratica alguma modalidade esportiva por imposição de seus pais, para realizar o sonho dos mesmos.

Os motivos intrínsecos são resultantes da própria vontade do indivíduo, enquanto os extrínsecos dependem de fatores externos. As aulas de Educação Física escolar são citadas quase que sem exceções por praticamente todos os alunos como a disciplina que mais gostam dentre as demais, e talvez a única que possibilita uma integração social e afetiva tão grande e relevante entre os alunos. Também é nas aulas de Educação Física que os alunos convivem frente a frente com a realidade social, pois é nessa aula que os mesmos tem de aprender a respeitar as regras, saber vencer, saber perder, cumprir horários, respeitar companheiros e adversários, vencer seus próprios limites como o medo, vergonha, timidez.

Para o autor, muitos alunos quietos e tímidos durante as aulas em sala de aula acabam por se soltar nas aulas de Educação Física e interagir de outra forma com seus colegas, pois a aula de Educação Física é geralmente alegre e dinâmica, e diferentemente do esporte de rendimento a Educação Física escolar busca a inclusão de todos, sempre respeitando as dificuldades e limites de cada um. O relacionamento entre professores e alunos também é diferente entre a Educação Física e as demais disciplinas, percebe-se uma aproximação maior entre os alunos e os professores, uma relação de amigos o que é difícil perceber em outras disciplinas.

Segundo preconiza Reeve (1995), o estudo da motivação extrínseca se baseia em três conceitos principais: recompensa, castigo e incentivo. Uma recompensa é um objeto ambiental atrativo que se dá ao final de uma seqüência de condutas e que aumenta a probabilidade de que essa conduta volte a acontecer. A aprovação, as medalhas, os troféus, os certificados e o reconhecimento são objetos ambientais atrativos dentro do contexto desportivo oferecidos depois de se realizar bem um exercício e de se ganhar uma competência. O castigo é um objeto ambiental não atrativo que se dá ao final de uma seqüência de condutas e que reduz as probabilidades de que tais condutas voltem a acontecer. A pessoa que recebe a crítica e é ridicularizada em público tem menos probabilidade de repetir essas condutas que o indivíduo que não recebe tão desagradável objeto ambiental. Na aula de Educação Física, o desenvolvimento da competência desportiva faz com que o indivíduo crie expectativas de conseqüências atrativas e não atrativas que o levarão a participar ou não das aulas.

Para o autor, a motivação intrínseca como sendo uma conduta realizada por interesse e prazer, baseada em uma série de necessidades psicológicas, dentre elas a autodeterminação, a efetividade e a curiosidade, responsáveis pela iniciação e pela persistência da conduta frente à ausência de fontes extrínsecas de motivação.

Stavisky e Cruz (2008) afirmam que a Educação Física possui uma “atração natural” nas séries iniciais do Ensino Fundamental, mas esta tende a diminuir a partir da 5ª e 6ª séries. De modo geral, o desinteresse é presente em ambos os sexos. Contudo, é muito difícil que na escola as aulas de EF acabem por desagradar a todos ou mesmo desaparecer do currículo. A tendência é existir aqueles que gostam de participar das aulas e os que preferem não participar. Estes dois lados que o professor vivencia geram muitas reflexões e preocupações por parte professores e pesquisadores interessados em conquistar uma participação plena dos alunos nas aulas. Alguns esforços já foram feitos no sentido de descobrir o que leva os alunos a participarem mais das aulas, porém, neste complexo fenômeno, há muito ainda por descobrir. Daí a necessidade de continuarmos pesquisando o assunto.

Os autores complementam que: “conteúdos repetitivos” e “falta de compreensão dos alunos com os próprios colegas e professores” é um dos principais motivos que afastam os alunos das aulas, principalmente, os menos “habilidosos”; fato que pode ser mais bem compreendido, observando a necessidade de uma maior compreensão quanto aos diferentes níveis de desempenho motor apresentada pela parcela de alunos que declara não gostar das aulas de Educação Física.

A linguagem corporal não é uma “propriedade” da Educação Física e, embora seja a sua especificidade, deve ser trabalhada em outros momentos da jornada educativa, tendo a dimensão lúdica como princípio norteador. As discussões em torno da Educação Física em todo o ensino e suas problemáticas específicas é muito discutida nas literaturas, porém as questões relacionadas a evasão na disciplina no contexto educacional brasileiro, parecem não fazer parte da formação dos(as) licenciados(as) em educação física. Cabe ao profissional de Educação Física analisar as diferenças de cada aluno, suas dificuldades e deficiências e, dessa forma evitar a evasão das aulas.

Referencial bibliogråfico:
Santos, Rodrigo Maia dos; Duque,  Luciana Fernandes. Evasão na aula de Educação Física: fatores que interferem na participação do aluno. Revista Digital, Buenos Aires, año 15, numero 149, octubre 2010. http://www.efdeportes.com/

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