O FUTEBOL PARA ALÉM DAS QUATRO LINHAS
Santos, F. A. dos. Cássia, R. de.
O
que poderemos descobrir se olharmos por trás da cortina de um espetáculo de
futebol? O aluno cauteloso ao olhar diria:
“O futebol é um jogo, um esporte e não possui
cortinas para olhar-se por trás. Outro aluno, mais audacioso, poderia ainda
responder: eu sei o que acontece por trás, até porque, eu vivo no “país do
futebol”, nasci com esta manifestação corporal impregnada em mim. E você, o que
responderia?”
O
futebol alcança importância gigantesca em nosso país, a ponto de se afirmar ser
este o país do futebol. Por isso, você está convidado a espiar, através da
cortina, e descobrir os ensaios e ajustes desta apresentação, bem como,
aprofundar seus conhecimentos sobre o que pode vir a ser o futebol, para além
das quatro linhas que circunscrevem o campo de jogo.
“Esporte
é Saúde”,
“Esporte
é Energia”,
“Esporte
é Integração Nacional”.
Tudo
verdade e tudo mentira. Claro que o esporte ajuda a integração nacional. Mas,
iniciaremos nossa discussão sobre o futebol como ópio do povo.
Ópio
é um analgésico muito potente, e faz nosso cérebro funcionar mais devagar.
Disto é possível supor o porquê da expressão que relaciona o futebol a uma
espécie de contaminação da consciência crítica do ser humano.
A
consciência é formada a partir de inúmeras questões de ordem política,
econômica e ideológica, que assumem importância em determinados períodos
históricos na conformação ou efervescência da população.
A
ideologia, conceito do qual tanto ouvimos falar, tem, na maioria das vezes, seu
real significado pouco discutido. Você já deve ter ouvido falar que cada um tem
uma ideologia, ou que devemos ter nossas próprias ideologias. Será que
ideologia é, então, a mesma coisa que ideais a serem alcançados por cada um de
nós?
O
filosofo e pensador Karl Marx (1818-1883), conceituou ideologia a partir da
dinâmica da luta de classes. Ou seja, para ele, a ideologia está colocada na
luta entre aqueles que dominam e aqueles que são dominados.
Assim, os dominantes apresentam suas
idéias como únicas válidas e verdadeiras e perseguem, excluem ou exterminam
aqueles que as contestam.
A
ditadura militar vivida pelo Brasil, entre os anos 60 e 80 do século XX, é um
bom exemplo disso. Você já ouviu falar das torturas aplicadas àqueles que não “seguiam
a ordem” estabelecida, ou contestavam o governo? Do exílio de autoridades e
pessoas comuns que fugiam do país para não serem mortas, permitindo que o
governo autoritário mantivesse a sua “ordem”? Enfim, nossa história está
repleta de acontecimentos em que a ideologia das classes dominantes era imposta
como doutrina, impossível de ser contestada.
Mas
como a ideologia pode ser transmitida à população? Por meio de vários canais,
tais como: a mídia televisiva, os jornais, revistas, discursos, ou até mesmo as
leis de censura, próprias dos governos autoritários, como foi o caso do Brasil
no período do regime militar.
Os
defensores do futebol, como ópio do povo, entendiam este esporte como uma das
possibilidades de veiculação ideológica do pensamento da classe dominante.
Na
década de 70, para neutralizar a oposição ao regime, o governo fez uso de
vários instrumentos de coerção. Da censura aos meios de comunicação, às
manifestações artísticas, às prisões, torturas, assassinatos, cassação de
mandatos, banimento do país e aposentadorias forçadas, espalhou-se o medo e a
violência. Os setores organizados da sociedade passaram a viver sob um clima de
terrorismo, principalmente após o fechamento do Congresso Nacional, em 1966.
Para
amenizar essas crises, o governo do presidente Médici (1969-1974) lançou mão do
futebol como possibilidade de desviar a atenção da população dos conflitos
políticos da época. O objetivo era que, ao invés das pessoas saírem às ruas
para participar de manifestações políticas, ficariam em suas casas torcendo
pela seleção brasileira numa “corrente pra frente”, como diz a música de Miguel
Gustavo, “Pra frente Brasil”.

Tanto em 1970 como em 2004, ou em
outras vitorias da seleção em campeonatos mundiais, o futebol funcionou como
válvula de escape para os problemas sociais. O interesse do governo Médici,
neste evento, foi distrair a população, “aliviar” conseqüências da
instabilidade política do país em questão com o uso do papel simbólico que o
futebol assumiu historicamente.
O
futebol apresenta, atualmente, como uma identidade nacional. Um esporte de manifestação
cultural do povo e constituidor da identidade da nação brasileira.
“Como um esporte, ou
jogo, pode se constituir num objeto que identifica uma nação? Identidade
estranha quando se pensa em um esporte que veio de fora do país e hoje
anunciamos aos quatro cantos, como se fosse nossa invenção”.
Segundo
o antropólogo Roberto DaMatta,
“... sabemos que o
futebol brasileiro se distingue do europeu pela sua improvisação e
individualidade dos jogadores que têm, caracteristicamente, um alto controle da
bola. Deste modo, o futebol é, na sociedade brasileira, uma fonte de
individualização e possibilidades de expressão individual, muito mais do que um
instrumento de coletivização ao nível pessoal ou das massas. Realmente, é pelo
futebol praticado nas grandes cidades brasileiras, em clubes que nada têm de
recipientes de ideologias sociais, que o povo brasileiro pode se sentir
individualizado e personalizado. Do mesmo modo, e pela mesma lógica, é dentro
de um time de futebol que um membro dessa massa anônima e desconhecida pode
tornar-se uma estrela e assim ganhar o centro das atenções como pessoa, como
uma personalidade singular, insubstituível e capaz de despertar atenções.”
(DAMATTA, 1982, p. 27).
É
necessário pensar o futebol como algo ainda mais complexo e poderoso do que um
instrumento de ideologia das massas e do mercado. Propomos pensá-lo como
possibilidade de desenvolver formas solidárias e cooperativas de organização da
sociedade. Neste sentido, o futebol seria um esporte, uma prática corporal
capaz de fazer refletir sobre diferentes maneiras de organização política e
social.
Nesta
perspectiva, o futebol organizado nas ruas, pelas comunidades locais, pode se
tornar a vitrine de nossa identidade nacional. Esses times que se constituem
nas relações sociais democráticas e solidárias, que objetivam a diversão e a
integração da comunidade, surgem como exemplos de possíveis organizações
políticas alternativas.
O
futebol de várzea, de pelada, aquele que você organiza na sua comunidade, na
sua rua, cumpre um papel importante na caminhada rumo à superação de dificuldades e, principalmente, da personalização
singular do brasileiro como povo característico e criador de uma cultura
própria.
Quando nos colocamos como atores deste
espetáculo, muitos problemas podem surgir, principalmente, se você analisar
qual o grande público que participa dos jogos organizados nas ruas. Os homens
ainda representam a maioria dos praticantes de futebol, embora isso venha
mudando com uma freqüência cada vez maior. As mulheres têm conquistado seus
espaços, o que pode demonstrar o que dissemos anteriormente, sobre a importância
do futebol na discussão de problemas sociais. Nunca é demais lembrá-lo que o
futebol deve ser praticado por toda a turma, e isso inclui todos e todas,
meninos e meninas, sem distinção.
O
jogador é um trabalhador como outro qualquer e, como tal, vende sua força de
trabalho em troca de salário. O clube, como um ótimo capitalista, vê nesta
mercadoria a oportunidade de obter lucro com a possível venda para outra
equipe. Assim, a venda de jogadores, (mercadoria) que atuam no Brasil, para clubes
internacionais.
O jogador, tratado como mercadoria por
seu clube, vê, nesta transferência, a oportunidade de “mudar sua vida”, ganhar
um ótimo salário e visibilidade mundial. O preço destes jogadores-mercadorias
brasileiros é baixo em relação aos do mercado europeu, por uma série de
fatores. Um deles é, sem dúvida, a péssima administração que cerca o esporte. O
outro é a dificuldade financeira atravessada pelos clubes brasileiros.

Outro
provável motivo, que pode ser atribuído ao barateamento dos jogadores
transferidos ao mercado internacional, diz respeito ao valor agregado à suposta
profissionalização internacional.
Um
exemplo pode ser a transferência do jogador Kaká, atuando na época pelo São
Paulo Futebol Clube, para o clube italiano Milan. Ao transferir-se para a
Itália, Kaká tratou logo de “ajustar” sua imagem, e vendê-la junto com seu
produto. O futebol europeu, através das grandes parcerias entre empresas
interessadas em mostrar sua marca no cenário mundial, tem como forma de
trabalho a vinculação de seus jogadores à imagem de uma profissionalização que
rende aos clubes milhões de dólares, e agrega ao valor do jogador quantias bem
maiores que as pagas na compra de um jogador daqui do Brasil.
Nossos clubes não conseguem manter contratos
milionários com as empresas mais ricas do mundo por um motivo muito claro,
nossa população é pobre, temos milhões de problemas financeiros e,
principalmente, ninguém confiaria neste mercado, levando em conta o jogo
capitalista. As relações de mercado têm forçado os clubes brasileiros a se
enquadrarem na lógica competitiva, da venda de mercadorias, assim como as
demais estruturas da sociedade. Ficamos nós, torcedores (espectadores), “a ver
navios”, com as mãos atadas pelo chamado mundo da bola, cada vez mais
profissionalizado.
Finalizada
nossa caminhada pelos bastidores do futebol, questões que não caberiam nesta
reportagem, ficando como tarefa a serem pensadas, posteriormente
relacionando-as com as características da região onde você mora e, melhor que
ninguém, saberá discuti-las e problematizá-las “dentro” e “fora” das quatro
linhas.
Referencial
bibliográfico: Vários autores. Educação Física. Curitiba/PR: SEED, 2006, 17 a 30 pg.
Colégio Estadual José
Lobo
Disciplina: Educação
física
Professora: Mirna
Moreira Batista
4º bimestre
3º lista de exercício
1º e 2º anos do ensino
médio
Valor da avaliação
até 2,0 pontos
Orientação
da atividade avaliativa:
Ø Formar duplas, tirar
cópia do texto, da lista de exercício e responder em uma folha de caderno, com
cabeçalho.
Ø Utilizar caneta de
cor azul ou preta, com letra legível. Não utilizar lápis ou corretivo nas
respostas da lista de exercício.
Ø Entregar apenas a
lista de exercício respondida, sem o texto, o texto fica com a dupla.
Ø
O
prazo de entrega em 48 horas.
Lista de exercício
1.
O
que o texto quer dizer sobre “o futebol como ópio do povo”?
2.
O
que é ideologia? Como a ditadura utilizou o futebol como ideologia, na década de
60?
3.
O
que acontecia na ditadura militar que vai de contra os direitos humanos?
4.
O
esporte pode ser saúde, pode ser energia e integração nacional, então, por que
o texto coloca com tudo verdade e tudo mentira?
5.
O
Brasil, ganha como identidade da nação o Futebol, a partir da ditadura militar,
porém existem diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu. Qual é essa
diferença?
6.
O futebol é uma
prática corporal capaz de fazer refletir sobre diferentes maneiras de
organização política e social. Como o futebol pode se apresentar de formas
diferentes?
7.
O
jogador de futebol é como um trabalhador qualquer, vende sua mão de obra por um
salário. Porém o jogador tornou-se mercadoria para os clubes. Nesta compra e
venda, através das transferências entre empresas-clubes, o jogador vê a
possibilidade de mudar de vida. Mas o que tem acontecido no cenário atual com os
jogadores brasileiros?
8.
“Ao
transferir-se (Kaká) para a Itália, tratou logo de “ajustar” sua imagem, e
vendê-la junto com seu produto”. Porque o jogador Kaká fez este ajuste de
imagem?
9.
O
que poderemos descobrir se olharmos por trás da cortina de um espetáculo de
futebol?
10.
Faça
um gráfico comparativo das 6 questões, da entrevista feita na primeira lista de
exercício, utilizando o quadro quantitativo da segunda lista de exercício, a
dupla pode fazer a caneta utilizando a regra.
Exemplo:
Questão
01
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