sábado, 9 de setembro de 2023

Evento esportivo não é lugar de manifestação política

 “Um evento como um jogo de futebol serve a manifestações políticas? Eu acho que não”

Eu não gosto da obrigação de tocar o hino nacional antes de eventos esportivos. Na Copa São Paulo de Futebol Júnior, no mês passado, os caras tocavam o hino inteiro antes do jogo. Tipo cinco minutos de música. Não vejo necessidade, não acho que patriotismo funciona enfiando um hino goela abaixo de torcedores. Me incomoda também saber que o hino é uma lei estadual, uma interferência da Assembleia Legislativa no rito esportivo.

Quando política e esporte se misturam dá ruim. Vou poupá-los dos detalhes, mas basta olhar nossos últimos grandes eventos para entender que essas duas substâncias não devem ser consumidas ao mesmo tempo. O que me leva à minha primeira grande preocupação de 2018: é ano eleitoral.

Nos Estados Unidos, Colin Kaepernick, jogador da NFL, a liga de futebol americano, resolveu se ajoelhar durante o hino americano para protestar contra a forma como a polícia trata os negros. Trump ficou pistola, os torcedores conservadores também, considerando um desrespeito ao hino. Independentemente do que você, leitor, ache, Kaepernick está desempregado. Nenhum time quis esse troublemaker no elenco. Como eu estava dizendo, quando esporte e política se misturam…

Será que o evento esportivo é um local apropriado para manifestações políticas? Eu acho que não. Olhando por todos os lados, não vejo motivos para politizar o esporte.

Do ponto de vista do atleta: ele veste uma camisa que não é dele (que, aliás, ele largará por um salário melhor), uma camisa que representa torcedores que caem por todo o espectro político. A câmera e o microfone só estão apontados para aquele jogador por causa da camisa que ele está vestindo e de sua performance esportiva.

Não acho justo ele hackear esse momento, pelo qual está sendo pago, para levar adiante causas pessoais. É para isso que existe a rede social: ali, o jogador faz o que quiser. No campo? Ele está para entreter e representar até mesmo os torcedores que votam e pensam diferente. Acho também que temos de respeitar os espaços destinados à diversão, senão nosso mundo vai ficar ainda mais maluco. Você liga no basquete, no vôlei, no futebol para ter umas duas horas de paixão, suspense, humor.

Do mesmo jeito que você escolhe uma série ou assiste a uma novela. É um desligamento da realidade; nosso cérebro precisa dessa quase meditação para aguentar o dia seguinte. E aí você senta para ver um jogo e esfregam um hino na sua cara, como se aqui fosse uma “república popular”, e seu jogador favorito resolve lacrar na hora de comemorar o gol do título do seu time. É justo? Não. Tem muita coisa contaminada por aí. Precisamos imunizar o pouco espaço que ainda temos de diversão. Textão é no Facebook. Deixem o esporte em paz.

LEIFERT, Tiago. GQ Brasil, 26 fev. 2018. Disponível em: <https://gq.globo.com/Colunas/Tiago-Leifert/noticia/2018/02/evento-esportivo-nao-e-lugar-de-manifestacao-politica.html>. Acesso em: 27 mar. 2020.


https://youtu.be/yx60T1guUBY?feature=shared>.


Papo aberto:

1. Tiago Leifert defende a tese de que “quando política e esporte se misturam dá ruim”.

a) Você concorda com a tese defendida pelo autor? Por quê?

b) Como argumento para reafirmar sua tese, o autor sugere aos leitores que se lembrem de eventos esportivos anteriores. Considerando o momento histórico em que o texto foi escrito (ano de 2018), faça uma pesquisa rápida e descubra: a quais grandes eventos o autor estaria se referindo?

c) Por qual motivo o autor elege esses eventos como ilustrações de sua tese de que política e esporte não devem se misturar?

d) Elabore uma contra-argumentação a essa tese, buscando estabelecer contrapontos que indiquem aspectos positivos da realização dos megaeventos esportivos no país.


2. No quinto parágrafo, o autor afirma que o atleta “veste uma camisa que não é dele [...], uma camisa que representa torcedores que caem por todo o espectro político”.

a) Em sua opinião, o fato de o atleta representar torcedores com diferentes posições políticas justifica a negação de sua manifestação política em campo? Por quê?

b) Colin Kaepernick se manifestou, em campo, contra a violência policial dispensada aos negros de seu país. Qual é a sua opinião sobre esse tipo de protesto?

c) Tiago Leifert se posiciona contrariamente à manifestação política do atleta estadunidense. Quais são os argumentos utilizados pelo jornalista para sustentar sua opinião?

d) Levando em consideração os motivos de Kaepernick para realizar o protesto, como você avalia a opinião do jornalista?


Por dentro do texto:

1. O artigo de opinião de Tiago Leifert expressa seu posicionamento sobre as relações entre política e esporte. Retome a leitura e identifique expressões que estejam introduzindo juízos de valor.

2. Analise a posição social ocupada por Tiago Leifert. Qual é o impacto dessa posição no poder de convencimento de sua argumentação e na formação da opinião pública?

3. Leifert afirma que o presidente americano Donald Trump “ficou pistola” e que considerou o protesto de Kaepernick um desrespeito ao hino do país.

a) Qual é o significado dessa gíria no texto?

b) Identifique outras gírias ou expressões informais usadas pelo autor. Em sua opinião, qual é o papel delas no texto?

4. Identifique a relação de causa e consequência estabelecida por Leifert ao relatar o caso do protesto de Kaepernick.

5. Com qual propósito Leifert construiu essa relação?

6. No sexto parágrafo, o autor faz a seguinte afirmação: “Não acho justo ele hackear esse momento, pelo qual está sendo pago, para levar adiante causas pessoais.”.

a) Qual é o significado, no contexto, atribuído à expressão “hackear esse momento”?

b) Qual é a sua opinião a respeito dessa afirmação?

c) Suponha, por exemplo, que as manifestações políticas dos atletas sejam proibidas para evitar esse “hackeamento”. Tente imaginar quais seriam as consequências dessa proibição para os atletas.


Referência:
O esporte pode ser uma experiência política? Se liga na Linguagem - experienta atuar. Editora Moderna: São Paulo. p. 36 a 38. 
Chttps://youtu.be/yx60T1guUBY?feature=shared>.

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